domingo, 22 de julho de 2007

PASSARAM POR MIM NO ROSSIO

Sábado passado os manifestantes da «frente nacional» cantavam A Portuguesa (o Hino de Portugal), de braço e mão estendidos fazendo a saudação fascista, junto da estátua daquele D. Pedro que fundou a soberania do Brasil e deu a Portugal o primeiro documento constitucional. Vieram do lado do Martim Moniz à Mouraria, que desde o tempo de D. Afonso Henriques é sitio de etnias diferentes. Alguns dos que se manifestavam contra os imigrantes traziam a Bandeira Portuguesa, verde e rubra em que sob o escudo português se vê o símbolo da ligação histórica entre o nosso povo e os demais deste planeta: a Esfera Armilar. Nunca vi serem tão insultados os símbolos de Portugal! Revoltei-me e senti vergonha. Ilucidei um casal idoso de turistas ingleses do que se passava, e o britânico cavalheiro disse-me apreensivo que havia lutado contra os nazis na II Guerra Mundial... Um agente da Polícia de Segurança Pública confessou também a sua vergonha e indignação, tentei sossegá-lo lembrando que nesse mesmo dia houve um jogo de futebol amigável entre a P.S.P. e imigrantes da Cova da Moura, bem haja a nossa Polícia e os imigrantes também! Houve um manifestante daqueles, já de cabelos brancos e não rapados como os de muitos que lá se viam, que me perguntou se eu custumava ir a banhos à praia de Carcavelos... respondi-lhe que lá vou sempre que quero, pois as praias de Portugal (assim como o Sol) são acessíveis a todos! Pessoas de bem e criminosos há-os de todas as nacionalidades e etnias, e informei-o um pouco do quanto, embora sendo eu caucassiano e de olhos azuis, existe de micegenação na minha familia lusa, afastou-se confundido para junto da pequena multidão que gritava: «Portugal é dos portugueses» e «fora com os imigrantes», não sei como pretendem que se passe à acção sugerida por esta propaganda, mas dado que são frases tão típicas da ideologia nazi, receio perceber que a solução consequente seja a mesma que o regime de Adolfo Hitler utilizou: aquela «solução final» que ninguém quer ver repetida... ou há quem queira? Onde estão a tolerância, a humanidade, o bom acolhimento, a ternura e os brandos costumes portugueses?
Os imigrantes devem ser vistos como pessoas que nos podem trazer benefícios: a cosmopolidade é enriquecedora da nossa cultura e civilização e necessária à nossa cultura e desenvolvimento. A política tem de ser de integração social e para absoluta legalização, sem nenhuma descriminação, exploração e humilhação. Há que agir começando por exemplo no Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, que funciona em moldes do género dos mencionados na literatura de Franz Kafka, pois que é lá que se trata de todos e devidos processos de legalização, o que à porta deste serviço na Av. António Augusto de Aguiar, em Lisboa, aconteçe todos os dias é de calamidade pública: centenas de pessoas aguardam uma madrugada a fio, por uma das escassas cinquenta senhas que são distribuídas diáriamente, sem contar com as intermináveis horas, que os que conseguiram obter uma dessas senhas, têm que aguardar pelo atendimento, não falando ainda da «tortura» da papelada... sei-o bem, pois fiz-lhes companhia duas vezes na passada semana e é ver para crer, basta lá ir e não ignorar. Os funcionários dos Centro de Emprego e do Instituto de Emprego e de Formação Profissional também têm uma missão e responsabilidade a cumprir para com os imigrantes, comecem por conhecer as leis que regem a acessibilidade à inscrição nos Centros e ao emprego quando os imigrantes iniciam um processo de legalização. Que a burocracia não esmague o que é de direito.
Ilegalidade não, nem roubo, nem arrastão, nem tráfico de droga ou de pessoas, nem lenocínio e tudo o resto, a que interesses de determinados a imigração ilegal serve?
Senhores governantes há que agir! Xenofobia e racismo são crimes previstos na lei portuguesa e são contra o consagrado na Declaração Universal dos Direitos do Homem da qual Portugal é signatário.

Manuel Pessôa-Lopes
Lisboa, 19 de Junho de 2005